JAPONÊS NÃO AJUDA
Nas últimas semanas de outubro ouvi duas vezes a seguinte frase “Japonês não ajuda”. Em situações parecidas, mendigos me pediram dinheiro e ao verem que eu não tinha a desejada moedinha, soltaram a frase. Fiquei chateado, já paguei almoço, café, dei dinheiro, ajudei um homem abandonado nas ruas de São Paulo a voltar para sua família para o Rio e um polaco a voltar para a Polônia, além de ajudar periodicamente entidades de assistência social. Ouvir que “Japonês não ajuda” me deixou indignado e curioso. Comentei isso com meu amigo corinthiano Maia e ele me deu uma outra frase, que ele ouvia (ou dizia) quando era jovem “Japonês não dá carona”. O sentimento que tive é que o brasileiro acha que o descendente de japoneses não é solidário.
Fiquei pensando o porque disso e fui procurar referências. Achei um texto do Marcelo Ferlin, que diz em seu artigo que “Mendigos experientes tendem a evitar orientais, porque acreditam que dão pouca ou nenhuma esmola”.
Outro texto interessante é do jornalista Paulo Sampaio, que nos fala sobre o preconceito de mão dupla. Conta o caso da nipo-brasileira que teve medo de um coletor de recicláveis por preconceito e o próprio reciclador que ao ver o medo da mulher mandou a ‘amarela’ para o Japão (kkkkk, peço desculpas, mas eu que sou amarelo achei engraçado). Eu creio que os estereótipos e o medo do diferente é o que leva a essas situações bizarras.
Creio que a frase “Japonês não ajuda” é um pouco disso tudo. Misto de preconceito, de medo, de falta de solidariedade com o diferente, do equívoco de achar que se o mendigo está nessa situação é porque não trabalhou, é não ver que a maioria não está nessa situação porque quer. E talvez o descendente de japonês dê menos esmola mesmo, quem sabe?.
E do jeito que o Brasil está, a coisa toda feia, desemprego em alta, falta de esperança, as drogas comendo as pessoas por dentro, é certo que o número de pessoas desamparadas aumentou. E o governo prestes a iniciar em 2019 vai reverter isso? Eu sou um cético. Então amigos ‘japas’, que tal fazermos alguma coisa de forma organizada para desfazer essa imagem feia de que “japa não ajuda”? Foi em 1993, há 25 anos que o Herbert José de Souza, o Betinho, fundou a Ação da Cidadania Contra A Miséria e Pela Vida. Como ele mesmo admitiu em entrevista ao jornal dos bancários naquele ano, não adiantam ações isoladas para acabar com a fome se a política econômica oficial continuar a produzir famintos. ‘’Japas’ que tal fazermos ações solidárias? E até mesmo o assistencialismo, tendo claro que não vamos substituir o Estado. O sentimento de ajudar alguém é muito forte, aprendemos humildade com isso também. Vamos nessa?
https://medium.com/@MarceloFerlin/me-lembrei-de-que-não-sou-branco-ou-totalmente-branco-75cd6e3ddebd
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